terça-feira, 17 de março de 2009

Entrega de Diplomas
28 de Novembro de 2008

Partilha e Vivência Humana


Convidado para participar no Seminário organizado pela Escola Secundária de Vendas Novas, aceitei com muito agrado. O Seminário tinha como objectivo juntar vários Centros de Novas Oportunidades à volta da mesa da experiência, para partilhar os bons e os maus sucessos, as metodologias seguras e produtivas e as menos produtivas, para enriquecimento de todos os que se dispusessem a trocar os valores com que conduzem os adultos a sucessos comprovados.
Sei que a minha perspectiva, como externo ao processo, é simplesmente mais alargada, o que, em rigor, não significa mais certa ou segura. Tem uma abrangência que me permite um confronto de perspectivas e uma opinião sobre caminhos que, de forma mais ou menos directa, têm levado os adultos a momentos de sucesso em júris de certificação quer do básico (NB) quer do secundário (NS)
Fui disponível para beber a partilha e para viver com as equipes que me têm confiado a missão de, com elas, avaliar o que já está feito e certificar colegialmente com a segurança que o conhecimento de referenciais permite.
Estiveram presentes quatro Centos de Novas Oportunidades, os suficientes para que se gerasse um clima de participação e troca quase inigualável. Como é evidente, não deixei de disponibilizar o meu contributo, próprio de quem encontra os problemas todos ou quase todos resolvidos, quando recebe os documentos em portefólio. A visão e o domínio de quem contacta com os problemas é sempre mais dramático do que a de um simples Avaliador Externo. Vejo as funções de um avaliador externo sempre na perspectiva de um humanismo cravejado das diferenças da singularidade de cada adulto. E, por vezes, não é fácil conseguir um equilíbrio, a não ser com recurso a contornos que só uma pedagogia bem experimentada consegue perceber. Aqui sinto, por vezes, algumas dificuldades só ultrapassadas pela possibilidade que a vida me tem dado de conhecer o ser humano nas suas diferenças e na beleza da concretização dos seus valores e aspirações. O coração humano é muito complexo e a sua sensibilidade tanto fecha como abre portas. Temos de perceber de que lado fica a chave para não forçarmos os umbrais e para não magoarmos quem tenta fechar ou abrir as portas da vida e da cultura.
Se me senti muito bem durante o dia, sempre que participei quer pela atenção a quem falava, quer pela opinião que eu próprio ia exprimindo, a sessão final foi, para mim, uma surpresa de carinho e reconhecimento. Nunca esperei sentir e perceber que, nos poucos momentos de um júri, fosse possível conquistar corações que nunca antes tínhamos visto. Percebo que as palavras improvisadas que ali construí em frases, talvez desorganizadas, foram ditas com muito sentido de verdade e interioridade. Senti-me, naquele momento, esmagado pelo peso de todas aquelas histórias – pedaços de vida - ali dispostos pela generosidade e disponibilidade daquelas mulheres e daqueles homens que ousaram, um dia, demonstrar as suas competências. Fui trespassado pelo silêncio duma sala com quase duzentas pessoas à espera do que lhes podia dizer, naquele momento, talvez a última oportunidade, a palavra certa que envolvesse razão e coração. Certamente escolhi as certas e a empatia acrescentou as que ficaram por dizer. Penetrou-me de carinho e reconhecimento uma sala inteira de pé e em palmas significativamente agradecidas, dádivas que reparto por todos os que trabalharam com aqueles Adultos. Se há momentos únicos na vida humana e profissional de um ser humano que se dedica a formar e a educar, esse que me foi proporcionado na Escola de Vendas Novas pelo calor humano daquela equipa, a que esteve antes e a actual, e daqueles adultos reconhecidos, esse momento, repito, foi, sem dúvida, um dos melhores da minha vida. A todos o reconhecido agradecimento para que fique testemunhado e para que se projecte no tempo e na vida que estas simples palavras tiverem, guardadas em papel ou em traços de recordação.


Américo Dias